ELENICE DE PAULA
JORGE LUIZ ZALUSKI
A
obra do historiador francês Philippe Ariès, intitulada “História Social da
Criança e da Família”, publicada em 1960, inaugurou as discussões sobre o
universo infantojuvenil no âmbito da História. Para o autor, a reorganização
das relações sociais na esfera da família sob a perspectiva burguesa reconfigurou
a concepção de infância. Conforme o autor, “o sentimento” de infância
desenvolveu-se diante das exigências do mundo moderno (ARIÈS, 1986).
Com
essas mudanças, principalmente no que diz respeito a compreensão de que nessa
fase da vida deve existir a preparação e formação moral e intelectual, ao longo
do tempo, a educação escolar não só assumiu a função de educar à infância e
juventude, como, diante de uma ideia de futuro, a da necessidade de que quando
adultos, devem constituir-se enquanto um grupo escolarizado e que compartilha
dos mesmo códigos de comunicação. Entretanto, o acesso ao ensino escolar, e, as
regras disciplinares sustentadas por ele contribuíram para fortalecer a
exclusão de boa parte da população.
Em
função das desigualdades econômicas, gênero, raça, idade e/ou devidos aos
discursos pedagógicos que tomaram posição de julgamento quanto a condição do/a
escolarizado/a para definir se o/a estudante pode passar para outra etapa, cabe
pensarmos, quando a não escolarização de quem não foi à escola ou não concluiu
os estudos passou a se tornar um problema?
Diante
da compreensão das influências de cada contexto histórico no sistema de ensino,
este texto tem como objetivo refletir sobre as principais legislações
educacionais para a educação de adolescentes e adultos não escolarizados,
durante a ditadura civil-militar. Acreditamos que por meio dessa análise é
possível compreender os objetivos dos projetos de ensino e as expectativas
construídas para jovens e adultos. Sendo assim, este texto está dividido em
duas partes, na primeira, buscamos refletir sobre as principais legislações
direcionadas para o ensino de adolescentes e adultos. Na segunda, iremos
analisar algumas das propostas de manuais didáticos produzidos pelo MOBRAL, em
1974.
No
Brasil, ao longo do século XX, diferentes discursos contribuíram para construir
propostas de acesso a escola para a população não escolarizada ou que estivesse
fora da “idade escolar”. A Constituição de 1934, estabeleceu o ensino primário
como obrigatório e gratuito sem distinção por idade. Com a criação do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 1937, passa
a serem estudadas medidas de acesso a educação escolar, que foram reafirmadas
com a criação do Fundo Nacional de Ensino Primário (FNEP). Em 1942, diante do
interesse em qualificar a população trabalhadora para assumir atividades na
área industrial, por meio do Decreto-Lei nº.4.048, foi criado o do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), destinado á educação profissional.
Por meio desse decreto, deveriam matricular-se candidatos/as com “doze anos
feitos e ser menor de dezessete anos” (SAVIANI, 2007).
Diante
do elevado número de pessoas não escolarizadas ou fora da “idade escolar”, em
1947, a Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes (CEAA), passou a pensar
em material didático específico para a escolarização de adultos. Ações essas
que contribuíram para a realização do Congresso Nacional de Educação de
Adultos, em 1947, e do Seminário Interamericano de Educação de Adultos, em
1949, através desse seminário, diante de uma valorização da América Latina,
foram pensadas medidas para integrar também a população indígena e rural.
Alfabetizar
adolescentes e adultos assumiu grande pertinência quanto proporcionar a
educação escolar à infância. Durante a presidência de Juscelino Kubitscheck, em
1958, o II Congresso de Educação de Adultos, teve fundamental importância nos
rumos educacionais do país. Nesse congresso, foram feitas propostas para
alfabetizar a população que ainda não dominava a leitura e a escrita. Entre as
medidas propostas, foi criada a Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo (CNEA), que contou com a participação do pedagogo Paulo Freire. Para
Freire, a alfabetização só seria possível através de uma reforma de base, em
que deveria dar atenção especial não só para o adulto, mas pensar em propostas
educacionais desde a infância (SAVIANI, 2007).
Outro
movimento significativo para compreender esse período, foi o Movimento de
Educação de Base (MEB), criado durante o governo de Jânio Quadros, pelo Decreto
nº 50.370, de 21 de março de 1961. O MEB, foi um movimento religioso pautado na
teologia da libertação, que, sob convênio entre o Ministério da Educação e a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre suas propostas,
desenvolveu programas de rádio para fins educacionais, mobilização social, e
politização. Por ter forte atuação religiosa, o MEB manteve suas atividade até
1969. A Cruzada da Ação Básica Cristã (ABC), criada em Recife, sempre
manifestou-se contrária as propostas pedagógicas de Freire. Marcada pelo
conservadorismo católico, teve forte atuação nas propostas educacionais
desenvolvidas junto Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), criado em
1967.
As
propostas do pedagogo foram fundamentais para desenvolver projetos de ensino.
Entretanto, em meio a ditadura, Freire foi perseguido, preso e foi exilado no
Chile devido as constantes ameaças. Nessa tensão entre as propostas
educacionais do educador e a ditadura, a educação de adolescentes e adultos
também foi atingida.
Com
base nas reflexões de Mariza Vieira da Silva, 1998, compreendemos por
alfabetização, o processo pelo qual o/a estudante passa a receber uma educação
escolar para atender as exigências da leitura e cultura escrita, essa que está
associada ao domínio do alfabeto, das concepções sobre aprendizagem, dentre os
valores compartilhados socialmente (SILVA, 1998).
.
Quando
ainda no império foi promulgada a Lei Saraiva, ao instituir a proibição de
votar daqueles que não eram escolarizados, a utilização do termo
“analfabetismo” foi apresentada como problema social. Assim, todos/as
aqueles/as que não soubessem ler ou escrever, além de excluídos do sistema
político, eram estigmatizados socialmente e o termo “analfabeto” ganhou
conotação pejorativa. Ao longo do século XX a utilização do termo
alfabetização, passou a ser enfatizada, tanto na academia, como nos usos
políticos, como forma de instruir as pessoas para o conhecimento do alfabeto,
ou seja, aprender a ler e escrever (SILVA, 1998).
Diante
da necessidade de organizar o sistema de ensino brasileiro, foi promulgada a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei nº. 4.024 de 20 de dezembro de 1961
(LDB DE 1961). Resultado de um longo debate, essa legislação contou com as
contribuições de Freire por meio de debate em grupos de estudos para a
apresentação de propostas. Essa legislação foi instituída em meio aos debates
que propunham reformar o ensino para melhor atender principalmente a população
pobre do país. A única menção que temos na referida lei ao ingresso das pessoas
que já haviam ultrapassado a considerada “idade escolar” está presente no
Artigo 27, onde consta que, “para os que o iniciarem depois dessa idade poderão
ser formadas classes especiais ou cursos supletivos correspondentes ao seu
nível de desenvolvimento” (BRASIL, Lei nº. 4.024 de 20 de dezembro de 1961). Ou
seja, a legislação não proibiu o acesso à escola para essas pessoas, mas por
meio de seu enunciado deixou em aberto para que a decisão do/a ingressante/a
fosse tomada pelo/a responsável de cada instituição.
O
CNEA enquanto política pública foi mantida até 1963. No ano seguinte, já na
presidência de João Goulart, Freire teve grande participação no Programa
Nacional de Alfabetização (PNA), criado através do Decreto nº 53.465, de 21 de
janeiro de 1964. O PNA teve como proposta efetivar uma reforma educacional de
base. Entretanto, o PNA foi extinto meses depois de sua criação por não
dialogar com as propostas autoritárias do governo.
Um
movimento social importante para compreensão do período em estudo foi o
Movimento de Educação de Base (MEB), criado durante o governo de Jânio Quadros,
pelo Decreto nº 50.370, de 21 de março de 1961. O MEB foi um movimento
religioso pautado na Teologia da Libertação. O MEB realizava suas atividades a
partir de convênio entre o Ministério da Educação e a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB). Entre as suas ações destaca-se os programas de rádio
desenvolvidos com fins educacionais. Por ter forte atuação no campo religioso
conhecido como teologia da libertação, o MEB manteve suas atividades até 1969,
momento em que sofreu forte repressão por grupos apoiadores da ditadura.
Em
1967, foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) que “provê
sobre a alfabetização funcional e a educação continuada de adolescentes e
adultos” (BRASIL, Lei nº. 5.379, de 1967). O MOBRAL em conjunto com o movimento
social Cruzada Ação Básica Cristã (ABC) constituíram-se como uma proposta
contrária a proposta educacional de Freire. A ABC foi criada em Recife e era
pautada pelo Catolicismo de cunho conservador. O MOBRAL passou a funcionar em
1968 e ficou encarregado pela educação de “adolescentes e adultos até 30 anos”.
Essas
propostas educacionais impactaram fortemente na sociedade. Tanto pela tentativa
em proporcionar uma educação para a formação básica, principalmente para
atender ao mercado de trabalho, como pela ausência de uma educação interessada
pelo desenvolvimento crítico dos/as estudantes.
Em
meio ao cenário de insatisfações da ditadura, foi promulgado a Lei de
Diretrizes de Bases da Educação nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971 (LDB de
1971), que alterou drasticamente o sistema de ensino brasileiro. Por meio dessa
legislação o ensino para formação técnica se compulsório. Diante disso, por
meio da obrigatoriedade do ensino profissional, a população infantojuvenil
passou a receber uma educação direcionada para o mercado de trabalho. Com uma
dupla intencionalidade, a oferta desse modelo de ensino teve como objetivo
diminuir a procura por vagas no ensino superior, e, garantir a formação escolar
de uma população qualificada para assumir distintas atividades profissionais
(SAVIANI, 2007).
A
LDB, de 1971 promoveu a educação continuada através do denominado “Ensino
Supletivo”. Essa proposta enfatizava que o atraso escolar poderia ser
recuperado por um rápido retorno à escola. O ensino supletivo, assim como o
MOBRAL, teve forte atuação em uma formação escolar instrumental. A LDB, de
1971, afirmava em seu Artigo 24, que interessava ao ensino supletivo, “ suprir
a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido
ou concluído na idade própria” (BRASIL, Lei de nº. 5.692, de 1971).
Retornar
à escola não mais em “idade escolar” seria uma forma de ocupar um espaço que
não destinado a essa fase da vida. Sendo assim cada instituição escolar deveria
tomar as medidas necessárias para “vigiar” essas pessoas que estavam “fora do
lugar”.
O
ensino supletivo buscava ampliar o número de os/as concluintes do ensino
fundamental e médio. Para essa modalidade, os/as estudantes recebiam um
atendimento diferenciado, pois não precisavam cursar todas as disciplinas. Por
meio de uma avaliação os discentes poderiam eliminar disciplinas e avançar para
outra série de ensino. Conforme o Artigo 26, da LDB de 1971, “a) ao nível de
conclusão do ensino de 1º grau, para os maiores de 18 anos; b) ao nível de
conclusão do ensino de 2º grau, para os maiores de 21 anos” (BRASIL, Lei de nº.
5.692, de 1971).
No
Brasil, conforme o IBGE, em 1970, a taxa de analfabetismos de pessoas com 15
anos ou mais, correspondia a 36% para as mulheres, e 29,8% para os homens. Em
1980, esse número passou para 27,1% e 23,6 respectivamente. Ou seja, diante de
uma a proposta de tonar o ensino mais acessível, sua efetividade não foi
garantida. Em 1982, por exemplo, mais de 20% dos/as estudantes do ensino
fundamental cursavam série diferente da estipulada em “idade escolar”. Conforme
o censo demográfico do início da década de 1980, no Brasil, a taxa de
escolarização com conclusão do ensino médio, foi de 33,3%. A proposta presente
na LDB, de 1971 esteve distante de um projeto de democratização do ensino. Mas,
sustentada pelo objetivo em elevar o número de pessoas escolarizadas,
projetou-se como responsável pela produção de uma mão de obra pouco
qualificada. Em nenhum momento essa legislação contou com a participação dos
grupos sociais que eram alvo de suas enunciações.
Parte
dessas observações pode ser identificada nos manuais didáticos elaborado para a
educação de adolescentes e adultos. A coleção Programa de Educação Integrada, publicada
em 1974, foi o material construído e disponibilizado em todo o país que reuniu
um conjunto de obras por temas correspondentes ao interesse em promover a
educação de adolescentes e adultos, mas que cumprisse a função de ingressa-los
no mercado de trabalho. Mesmo que não possamos ter a compreensão de toda a
circulação e recepção desse material, podemos identificar parte dos interesses
do MOBRAL e as intencionalidades do material desenvolvido.
Cabe
destacarmos que a coleção encontrada possui anotações que datam o ano de 1982,
referente à 5º série da época. Esse vestígio nos indica que o material já vinha
sendo utilizado por quase uma década, o que marca a circulação das ideias do
MOBRAL, a formação de uma geração de estudantes com essa modalidade de ensino.
No
manual “Consultas”, com um total de 48 páginas, reuni um conjunto de palavras e
seus significados da letra A a Z, e que corresponde a termos utilizados no
cotidiano das pessoas e que abrange as áreas das ciências humanas, exatas,
biológicas. Em continuidade com esse manual, a publicação “Textos”, com um
total de 156 páginas, apresenta textos informativos (conteúdo) sobre temas que
dialogam com as palavras chave do primeiro manual. Diante dos conteúdos
apresentados, notamos que em ambos os manuais existiu a preocupação em
desenvolver nos/as a compreensão de que são sujeitos de direitos,
principalmente em relação aos direitos e deveres políticos, como o de votar.
Uma contradição frente ao contexto histórico da época em que o país vivia sob a
ditadura civil-militar. Outro ponto se refere as relações de trabalho, que, por
meio dos conteúdos foram explorados as diferentes áreas de trabalho existentes,
como os das usinas elétricas, por exemplo, temática relacionada aos estudos
sobre rios, água, energia elétrica, dentre outros. Questão essa recorrente na
época devido os discursos do “Milagre econômico”.
Logo,
o ensino proposto pelos manuais do MOBRAL associou o desenvolvimento econômico
apoiado aos discursos de modernidade da época. A proposta da educação escolar
para adolescentes e adultos pautou-se em uma qualificação básica para o
trabalho diante de novas atividades desenvolvidas nesse contexto histórico.
Na
“Cartilha Quem lê, o texto “O anúncio de emprego” demostra o objetivo fazer com
que os/as estudantes soubessem manusear um jornal, em específico, para ler e
interpretar um anúncio de emprego. Como o manual informa ao se referir aonde
procurar um emprego, “É preciso ir no lugar certo. Se você ainda não sabe guiar
não adianta ir aonde pedem um motorista, não é verdade?”(MOBRAL, 1974, p. 03).
Não
cabe neste texto exploramos detalhadamente o texto do manual. Todavia é
importante destacar que gênero e classe social sobressaem na narrativa e
ilustrações utilizadas. Seja pelas vagas de emprego anunciadas e que são
direcionadas a população mais pobre e que não exigem muita ou nenhuma
qualificação escolar. E de que os anúncios reforçam distinções de gênero ao
apresentar cargos convencionais para homens e mulheres. Cabe destacar também
que os anúncios apresentados pelo manual buscam contratar “Moços e Moças”, uma
forma de redimensionar os usos da leitura e escrita para a aprendizagem de
adolescentes e daqueles que entraram recentemente na vida adulta. Logo, as
primeiras páginas de “Quem lê...” deixam de forma explicita que a educação do
MOBRAL está interessada em desenvolver nos/as estudantes a compreensão de
leitura e escrita para a procura de um emprego e não uma formação escolar
interessada em proporcionar um conhecimento preocupado na continuidade dos estudos
e/ou para que consigam funções que exigisse a formação escolar.
Em
continuidade com uma formação de como entrar no mercado de trabalho, em outro
texto, o manual também informa “como se apresentar no novo emprego”. Com base
no suporte impresso, podemos identificar algumas das etapas apresentadas como
necessárias para que os/as estudantes assumissem em sua aparência estética e
comportamento para apresentar-se em uma entrevista de emprego e exercer as
funções de cada cargo.
O
manual com fins didáticos foi desenvolvido como um guia de emprego, em que as
etapas: apresentação, o que falar e documentos, são esmiuçados como forma de
garantir o bom desempenho do/a “candidato” a vaga de emprego. Logo, a leitura e
escrita são significadas para o processo de acesso a vaga de emprego e
conquista dessa por meio do bom desempenho e domínio da fala diante da
entrevista e o preenchimento dos documentos.
Em
relação a aquisição e entrega dos documentos pessoais, o manual apresentou de
forma detalhada quais os procedimentos e importância de ter a certidão de
nascimento, título de eleitor, carteira de reservista para os estudantes do
gênero masculino, assim como os procedimentos para cumprir as obrigações para
quem está com os documentos “fora do prazo”. Outro documento em destaque é a
carteira de trabalho. Em texto sob o título de “Chegou a sua vez de entrar na
fila”, o manual busca informar a importância em ter o registro de emprego de
cada cargo assumido e de que isso irá influenciar futuras contratações se
necessário. É importante destacar que durante a ditadura civil-militar a
carteira de trabalho serviu como forma de controlar a circulação de pessoas nas
ruas, e, caso fosse parado na rua pelos policiais, e se não estivesse assinada
com registro de trabalho a pessoa poderia ser presa. Uma das ações da lei de
vagabundagem como ficou conhecida.
Para
tanto, a proposta de ensino apresentada pelo MOBRAL, por meio dos manuais
didáticos fornecidos para a educação de adolescentes e adultos esteve mais
interessada em desenvolver nos/as estudantes um ensino para acesso ao mercado
de trabalho do que o desenvolvimento crítico, principalmente em relação com a
realidade dos/as estudantes.
Essa
observação torna possível afirmar também que o ensino do MOBRAL rompeu com as
concepções de ensino e aprendizagem propostas por Freire. Se o educador buscou
proporcionar a aprendizagem por meio do pensamento crítico e partindo da
realidade dos/as estudantes, essa foi r(e)significada por meio da presunção de
que os/as estudantes eram pobres e de que deveriam apenas conseguir uma vaga de
trabalho, tendo em vista que a formação escolar estava restrita em dominar a
leitura e escrita para o acesso ao trabalho e pouco dialogava com conteúdos que
proporcionassem o desenvolvimento do pensamento crítico.
REFERÊNCIAS
Elenice
de Paula é graduada em história pela UNICENTRO (2008), sociologia pela UNIP
(2016) e pedagogia pela UNINTER (2020). Possui especializações nas área de
história, sociologia e ensino. Atualmente é professora temporária de sociologia
da Secretária do Estado da Educação do Paraná, em Guarapuava-PR.
Jorge
Luiz Zaluski, é mestre em História pela Unicentro, 2016. Doutorando em História
pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa
Catarina – PPGH/ UDESC, Florianópolis. Bolsista pela Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina – FAPESC. Integrante do Laboratório
de Relações de Gênero e Família – LABGEF/UDESC. Membro da
equipe editorial da Revista Tempo e Argumento.
ARIÈS,
Philippe. História social da criança e
da família. 2º Ed., Rio de Janeiro, Guanabara, 1986.
BRASIL,
Decreto nº 50.370, de 21 de março de 1961.
_________
. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei nº. 4.024 de 20 de dezembro de 1961.
_________.
Criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Lei nº. 5.379, de
1967). Lei nº. 5.379, de 1967.
________
. Lei de Diretrizes de Bases da Educação nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971.
__________
.Ministério da Educação e Cultura. Cartilha
Quem lê.... Programa de Educação Integrada-MOBRAL, 1974.
__________.Ministério
da Educação e Cultura. Cartilha textos.
Programa de Educação Integrada-MOBRAL, 1974.
__________.Ministério
da Educação e Cultura. Cartilha consultas.
Programa de Educação Integrada-MOBRAL, 1974.
SAVIANI,
Dermeval. História das Idéias
Pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.
Olá Elenice e Jorge, parabéns pelo texto e pelo enfoque pouco discutido.
ResponderExcluirConcordo com o ponto de vista explicitado no texto, principalmente no trecho final: “a proposta de ensino apresentada pelo MOBRAL, por meio dos manuais didáticos fornecidos para a educação de adolescentes e adultos esteve mais interessada em desenvolver nos/as estudantes um ensino para acesso ao mercado de trabalho do que o desenvolvimento crítico, principalmente em relação com a realidade dos/as estudantes” que representa bem a concepção de educação para os que estavam fora da idade escolar. Mas analisando os jovens de hoje em dia, os que estão no Ensino Médio e os que estão voltando para a escola para o Ensino de Jovens e Adultos – EJA, vocês não acham importante algumas orientações semelhantes aos dos manuais citados, principalmente no que tange o mercado de trabalho? Minha pergunta é fundamentada porque vivenciei algumas experiências como entrevistar 17 jovens para estágio numa prefeitura, onde os requisitos eram estar estudando no Ensino Médio ou EJA e ter domínio de informática, de todos os entrevistados, apenas 2 apresentaram o mínimo de conhecimentos em informática (editores de texto e confecção de tabelas, impressão, formatação de documentos) e alguns deles até disseram que informática para eles era saber manusear as redes sociais e nada mais; ou seja, mesmo com tanto acesso à informação seja na escola, na mídia, muitos desconhecem as implicações do que pode ou não ser útil no mercado de trabalho. E ainda, tenho alunos do Ensino Médio que chegam ao terceiro ano sem RG, CPF, título de eleitor e por aí vai, mesmo com a escola pressionando para que façam, pois tê-los oportunizará uma das muitas nuances do exercício da cidadania. E então, antes algumas orientações estavam nos manuais, de forma até preconceituosa ao direcionar como vocês dizem os cargos conforme classes e sexo, mas e hoje, com tanta informação disponível e mesmo assim esses erros continuam afetando aos mais novos?
Obrigada, Talita Seniuk.
Ola Talita,
ResponderExcluirobrigado pela leitura atenta ao texto.
Olha, não sei de qual cidade você fala, mas no sul, tanto no Paraná como em Santa Catarina, também está presente essa realidade mencionada por você. Vista as especificidades locais, não difere muito do que você disse. Muitas questões tiveram que serem cortadas para atender a limitação de caracteres do texto, talvez isso tenha dificultado o/a leitor para alguns pontos. Uma das questões do MOBRAL era barrar o desenvolvimento do pensamento de Freire, das teorias pedagógicas, principalmente da criticidade voltada as questões de classe. Qualificar o mínimo para o trabalho seria uma forma primeira das pessoas ingressarem em uma ou outra profissão, assim como alfabetizar contribuiria e muito para pessoas que sofriam pela falta de dominar leitura e escrita. Entretanto, além de questões ideológicas a proposta de ensino não visava a transformação social, mas de que simplesmente "passassem pela escola". Em relação ao presente, ainda vivemos uma intensa desigualdade, a questão das aulas remotas, por exemplo, demostra parte da realidade tão distante conforme idade, região, classe, gênero, dentre outras questões que interferem no processo de ensino. Seria oportuno a escola abrir espaços para formação, aprendizagem, além daquela do cotidiano. Mas muitas vezes os laboratórios são de uso exclusivo de determinada aula, ou até mesmo ficam fechados sem uso. Algo mais simples, como livros na biblioteca, ainda temos escolas que não liberam livros aos/as estudantes, essas questões são problemas que interferem no processo e "sucesso" escolar. Levantar projetos, parceiras são algumas das iniciativas iniciativas. Enfim, um universo de questões dificultam o acesso ao ensino, cabe refletirmos todos os dias de como promover uma educação para a igualdade dentre tantas outras questões importantes.
Elenice de Paula
Jorge Luiz Zaluski
Olá Elenice e Jorge, obrigada pelas considerações.
ExcluirApenas para critério de curiosidade, falo de uma cidade do Mato Grosso, mas como vc disse, essa realidade está em todo o país. Aqui temos a aprovação automática até o 9° ano, ou seja, tenho alunos que chegam no Médio sem saber ler, escrever, aptidões essenciais... Aí a reprovação acontece apenas nessa etapa. É claro que é vantajoso perante alguns organismos internacionais demonstrar os registros de que não há reprovação, consegue-se até empréstimos mais fáceis, mas isso está destruindo o aprendizado. Os alunos sempre falam, porque eu vou fazer, não tem nota, não reprova... e aí fica difícil ensinar para quem não quer aprender. Aí muitas pessoas falam, nossa, você gostaria de que tivesse nota porque é necessário punir os alunos desinteressados, e não é essa a questão, é que quando há uma cobrança mais delimitada, eles se esforçam ao menos para obter uma nota para passar e o aprendizado é um dos efeitos colaterais.
Obrigada.
Talita Seniuk
Olá Talita,
ResponderExcluirobrigado pelo retorno. Sim, esse problema persiste, ainda trabalhamos em meio ao desinteresse, a realidade dos/as estudantes esta muito distante do interesse da escola. Seria necessário pensarmos em estratégias coletivas. Infelizmente os/as estudantes percebem o quanto perderam/não aproveitaram, só depois que saíram da escola e/ou quando são cobrados por alguma coisa, como para engessar em um emprego por exemplo.
abraço
Elenice e Jorge