PRISCILA LOPES D'ÁVILA BORGES
Nos museus a prática educativa ocorre pelos
sentidos. Museus evocam o exercício do olhar, da escuta e do toque, tornando o
corpo do visitante, parte da exposição, uma vez que cada sujeito pode designar
novos sentidos e saberes a partir do que é exposto. A cultura, avaliada por
Forquin (1993, p.11), como um “conjunto
das disposições e das qualidades características do espirito “cultivado”, isto
é, a posse de um amplo leque de conhecimentos e (...) uma capacidade de
avaliação inteligente e de julgamento pessoal em matéria intelectual e
artística”, é fundamental para compreensão das mensagens que compõem a lógica
da narrativa museal. Nesse sentido, o capital cultural do visitante influencia
na sua capacidade apreender as mensagens do museu e ressignificá-las. A partir
das análises de Pierre Bourdieu, podemos problematizar a democratização do
acesso à museus, tendo em vista que, apesar do aumento das oportunidades de visitação,
os jovens não possuem, necessariamente, um preparo prévio, que dê conta de
formá-los como público espontâneo do museu. Com isso, afirmo que democratizar o
acesso físico ao espaço cultural, não é democratizar os saberes que formam a
linguagem museológica. Recobro os apontamentos iniciais de Renato Ortiz (1983,
p. 15), na obra organizada com textos de Bourdieu, ao afirmar que:
“Quando
Bourdieu retoma a afirmação de Marx, “eu não tenho vocação efetiva para os
estudos se não tenho dinheiro para realiza-la”, ele propõe uma teoria da
prática na qual as ações sociais são concretamente realizadas pelos indivíduos,
mas as chances de efetivá-las, se encontram objetivamente estruturadas no
interior da sociedade global.”
No
caso dos museus históricos, assim determinados pela natureza dos problemas
institucionalmente colocados, o discurso hegemônico, fundamentado em imagens e
objetos que dizem respeito a uma parcela ínfima do todo social, ou, ao menos,
as memórias selecionadas como históricas por grupos que exercem o poder, não
costumam gerar identificação imediata com o público escolar, que compõe,
majoritariamente, a futura classe trabalhadora. Não raro, encontramos jovens
adultos que afirmam que museus “são lugares de coisas velhas”, “lugares de gente culta” ou “lugares que ilustram a
História”. Sobre essas máximas, repetidas com naturalidade, podemos asseverar
três apontamentos centrais.
O
primeiro diz respeito a determinação do museu como um lugar, um espaço destinado, academicamente e socialmente, a memória.
O historiador francês Pierre Nora (1984) problematizou a aceleração da história
em sua obra, destacando a curiosidade que surge pelos lugares capazes de
“cristalizar” memórias, em um tempo onde a memória tornou-se um artefato
frágil. Entretanto, a sensação de efemeridade causada pela aceleração do tempo,
pela obsolescência programada e pela rapidez com que as informações são
pulverizadas, com um curto prazo para serem consumidas e processadas
cognitivamente, torna a memória mais vulnerável e valiosa. A História opera
sobre fragmentos da memória, deixando atrás de si um rastro de esquecimentos.
Ambas têm o mesmo limite, são parciais e localizadas, tensionadas pelo
exercício da lembrança e do esquecimento.
“Memória,
história: longe de serem sinônimos, tomamos consciência que tudo opõe uma à
outra. A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido,
ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos
os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas
revitalizações. A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do
que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no
eterno presente; a história uma representação do passado. Porque é afetiva e
mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam, ela se alimenta de
lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou
simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções. A
história, é operação intelectual e laicizante, demanda análise e discurso
crítico.” (NORA, 1984, p.9).
Pierre
Nora (1984) afirma que os lugares de memória “nascem e vivem do sentimento de
que não há memória espontânea” (p.13), criados pela crença de que a memória
precisa ser protegida, entesourada, ou de outro modo, será esquecida. Estes
lugares: materiais, simbólicos e funcionais, guardam “memórias que não
habitamos, semi-oficiais e institucionais, semi-afetivas e sentimentais, (...)
que não exprimem mais convicção militante nem participação apaixonada, mas onde
palpita ainda algo de uma vida simbólica” (p.14). Quanto menos a memória é
vivida, mais é transportada para suportes externos a sua lógica inicial. Essa
fragilidade da memória estimula um processo desenfreado de acúmulo de vestígios
em arquivos, bibliotecas e museus.
O
segundo apontamento, que surge como resultado das premissas normalmente
utilizadas quando se fala sobre museus, corresponde à impressão de não haver um
ponto de intersecção entre os interesses do visitante e os objetos/memórias
preservadas no museu. Entretanto, o consumo desse tipo de aparelho cultural não
é uma simples questão de predileção. Não podemos caracterizar essa postura como
algo restrito a subjetividade, “mas sim como objetividade interiorizada, (...)
que pressupõe certos esquemas generativos, que orientam e determinam a escolha
estética” (ORTIZ, 1983, p.17).
“(...)
Na medida em que os sistemas de classificação são engendrados pelas condições sociais
e que a estrutura objetiva de distribuição dos bens materiais e simbólicos se
dá de forma desigual, toda escolha tende a reproduzir as relações de dominação.
A luta de classes pode, dessa forma, ser lida através do estilo de vida de
diferentes classes ou grupos sociais.” (Ibidem).
Sendo
assim, o museu é um espaço, onde se desdobram, simbolicamente, as relações de
dominação presentes na sociedade. As memórias, que constituem a narrativa
museal, são estruturas objetivas, que se reproduzem, sob a forma de disposições
duráveis, como a História instituída por meio do currículo escolar, entre os
indivíduos, submetidos a determinadas condições materiais de existência. A
memória é, portanto, uma das produtoras do habitus,
por inculcar e se apropriar de certos aspectos da História. (BOURDIEU, 1972,
apud ORTIZ, 1983, p. 78-79).
O
terceiro aspecto da visão social sobre museus, concerne a sua capacidade de
ilustrar a realidade. Conforme o exposto por Maria Ciavatta (2016, p.208),
“historicamente, os pensadores dedicaram-se a tentar explicar o que é a
realidade, como o ser humano acolhe e incorpora em si a realidade, como o
sujeito que conhece alcança o objeto que se dá a conhecer”. Esse não é,
portanto, um problema novo. A busca pelo real, ou em última instância verdadeiro,
marcou o desenvolvimento da filosofia. Contudo, quando buscamos uma aproximação
com o real devemos partir de uma reconstrução histórica, capaz de entender a
História não como totalidade, mas sim como processo. Esse movimento também deve
considerar o caráter subjetivo, inerente a qualquer conhecimento histórico
apresentado como uma verdade objetiva. O problema da verdade, fundamentado em
raízes filosóficas, tem implicações no que se entende como conhecimento
histórico.
A
tríade de interações possíveis entre sujeito, objeto e conhecimento é
representada por Adam Schaff (1995), com o intuito de defender um modelo no
qual o sujeito e o objeto mantém a sua existência objetiva e real, interagindo
um sobre o outro e, produzindo um paradigma cognitivo, no qual o sujeito não é
um espelho, ele registra a realidade de acordo com as condições que lhe formam
e acompanham, transformando as informações obtidas segundo o código de
determinações sociais que atravessam seu psiquismo. Quando “afirmamos que nosso
juízo é verdadeiro, queremos dizer que estamos convencidos da conformidade do
nosso juízo com o objeto real. É esta a posição clássica de definição da
verdade que cada um de nós aceita, quase intuitivamente, nas nossas atividades”
(Ibidem, p. 93). Outro problema levantado acerca da ideia de verdade, diz
respeito a sua natureza absoluta ou relativa.
“O
velho litígio entre os partidários da verdade absoluta e da verdade relativa
incide sobre dois objetos distintos, sem vem que ligados entre si. O primeiro
consiste em saber se um juízo determinado (uma proposição) é verdadeiro ou
falso, independentemente (segundo os “absolutistas”) ou dependentemente
(segundo os “relativistas”) das circunstâncias, ou seja, da pessoa que o
enuncia, do tempo e do lugar em que é enunciado. O segundo objeto refere-se ao
caráter total (segundo os primeiros) ou parcial (de acordo com os segundos) das
verdades adquiridas”. (SCHAFF, 1995, p. 94).
A
verdade é um devir, levando em conta que o conhecimento de um objeto é
infinito, dando-se por meio da acumulação de verdades parciais. A ideia de
inexistência de verdades, bem como de verdades absolutas, deve ser descartada.
De acordo com Virgínia Fontes (2016), o poder apoia-se largamente no mito. No
caso dos museus, o poder de memória fundamentasse na crença do expectador nas
verdades ilustradas na narrativa museal, ou seja, o discurso leva o público a
crer em uma determinada verdade, que funciona como dispositivo de legitimação
de determinada memória. O que encontramos no museu, e isto deve ficar claro
para público, é uma representação de certa leitura do real. Em caso de visitas
escolares, o professor de história deve questionar a interpretação cristalizada
pelo senso comum, diante de uma imagem ou objeto, sinalizando a
intencionalidade subjacente a construção de qualquer exposição.
No
dicionário de filosofia de Abbagnano (2007, p. 853), o conceito de
representação é indicado pelo “reconhecimento como semelhança do objeto, (...)
representar significaria conter a semelhança da coisa”. Na história, essa
semelhança pode produzir uma ideia falsa do objeto de conhecimento, uma vez que
a suposta verdade da fonte iconográfica pode ser mera imaginação ou produção
intencional de certa memória. No exercício da lembrança e do esquecimento, a
imagem possui grande relevância, especialmente, se tomada como ponto de partida
para a educação histórica, tendo em vista a relação de equivalência, comumente,
estabelecida com o fato histórico.
“A História não é algo que possa ser apreendido
sensorialmente - modo padrão de estímulo na exposição. Exclui-se, portanto, da
responsabilidade do museu histórico preservar ou restituir o passado” (MENESES,
1994, p.38). Torna-se essencial que os alunos sejam preparados para visita ao
museu, sendo informados da intencionalidade que marca a produção de
representações sociais materializadas pela instituição. O professor deve
realizar trabalhos prévios com os discentes, esclarecendo que o objeto é um
elemento do passado, não uma expressão da verdade histórica. Conceitos como
tempo, espaço, mudança e permanência são pertinentes na sensibilização em sala
de aula. Ver o tempo não significa ver o
passado, mas visualizar na materialidade do que é exibido a presença do tempo:
pretérito, presente e futuro; futuro do pretérito e do presente; pretérito que
foi, que está sendo, que poderia ter sido ou que ainda pode ser; futuro que já
poderia ter sido (RAMOS, 2004, p.43).
O
professor deve levar em conta que os objetos têm um grande poder de
comunicação, e integram a realidade material dos alunos. Cabe ao educador
superar a narrativa do museu, apresentando os silenciamentos e tensões
expográficas, especialmente, em museus históricos hegemônicos, com discursos sobre
os grandes homens e feitos da história da humanidade, que tendem
a naturalizar a desvalorização dos negros, índios, mulheres e outras minorias.
É comum que esses silenciamentos façam com que os alunos não se sintam
representados no museu, quebrando a expectativa de identificação do sujeito com
a instituição que salvaguarda as histórias e memórias nacionais. Entretanto, o
professor pode usar as ausências materiais como presenças simbólicas em seus
discursos, questionando o que motivou a exposição a selecionar aquele trecho da
história. Outra possibilidade é permitir o encantamento dos alunos, a anarquia
dos corpos no museu.
Os
corpos anarquizam a lógica expositiva, uma vez que a narrativa é pensada para
privilegiar determinados objetos, salas e textos, mas o corpo no museu
encanta-se pelo que lhe afeta, os olhares não se dedicam uniformemente a todos
os objetos, cada sujeito elege o que merece a sua atenção. Existem práticas
educativas que podem ser desenvolvidas nos espaços museais baseadas na
liberdade dos alunos de selecionarem, tal qual o próprio museu, os objetos de
sua aprendizagem. Lembrando que o processo educativo em espaços culturais se dá
por vetores próprios, como a ludicidade, a não sequencialidade, a
multisensorialidade e a vontade de saber, o que nos leva a defender que o
educador não espere lançar sobre o museu as expectativas e metodologias da
escola. Aprender com o museu é estar disposto a estabelecer uma relação
dialética, construída a partir dos encontros polifônicos, provocando,
paulatinamente, um dialogismo que viabilize a aquisição de novos saberes por
todas as partes que compõem a relação ensino-aprendizagem.
O
professor ou mediador não deve narrar a exposição e sim provocar, nos alunos, a
vontade de ver os objetos, como pontos de partida para discussão de novas
possibilidades de pensar historicamente, rompendo com visões fatalistas ou
totalitárias da história. Francisco R. Ramos criou o conceito de objetos
geradores, inspirado na ideia de palavras geradoras de Paulo Freire. Para o
autor, o educador deve partir de uma peça conhecida pelos alunos, com perguntas
que façam os estudantes investigarem os objetos, motivando a reflexão e
enfatizando a multiplicidade de possibilidades presente em um único item,
interessando “esmiuçar as várias dimensões sociais que caracterizam a criação e
o uso dos objetos. Torna-se fundamental estudar como os seres humanos criam e
usam objetos” (RAMOS, 2004, p. 36), e vice-versa, objetivando a autonomia dos
sujeitos diante da narrativa museal.
O
museu pode ser um templo, onde o público contempla o que é exposto, ou um
fórum, aberto ao diálogo e metanarrativa. A proposta de encarar o museu como
espaço de representações visa a superação da homologação de valores
hegemônicos, e a abertura de um lugar de aprendizagem histórica emancipatória.
Aprender com o olhar, com a dúvida, por meio da pedagogia da pergunta, aberto a
interrogação e suspeita, esse deve ser o papel do ensino de História em museus.
A materialidade não pode servir como simplificadora e garantidora dos conteúdos
estudados em sala de aula. Os objetos devem servir à libertação, como fontes do
estudo da História.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de filosofia. 5° ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CIAVATTA, Maria. O conhecimento histórico e o problema
teórico-metodológico das mediações. In: FRIGOTTO, Gaudêncio e CIAVATTA, Maria
(org.). Teoria e Educação no labirinto do capital. São Paulo: Expressão
Popular, 2016.
FONTES, Virgínia. História e verdade. In: FRIGOTTO,
Gaudêncio e CIAVATTA, Maria (org.). Teoria e Educação no labirinto do
capital. São Paulo: Expressão Popular, 2016.
FORQUIN,
Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do
conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
MENESES,
Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da história: a
exposição museológica e o conhecimento histórico. In: Anais do Museu
Paulista - História e Cultura Material. São Paulo: Museu Paulista, 1994.
ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu: sociologia. Coleção
Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1983.
RAMOS,
Francisco Régis Lopes. A Danação do Objeto: O Museu no Ensino de História.
Chapecó: Argos, 2004.
SCHAFF, Adam. História
e Verdade. 6° ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1995.
Primeiramente, parabéns pelo texto! Realmente o museu é de grande importância, principalmente correlacionado à área da educação. Nesse sentido, gostaria de saber se, na sua percepção, os museus que adotam acesso digital a seus acervos podem ser uma boa fonte de estudo e aprendizagem nas escolas.
ResponderExcluirAtenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.
Obrigada pela mensagem! O acesso digital é um meio útil de democratização dos saberes produzidos pelo museu, podendo, sem dúvidas, servir ao processo de aprendizagem histórica como fonte para o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Contudo, se houver a oportunidade de comparecer com os alunos no museu ou centro cultural o professor pode ensinar por outros vetores, utilizando características próprias da materialidade e linguagem expositiva.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Parabéns pelo texto! Interessante sobre a questão do museu, devemos ter um olhar bem cauteloso. Destaco um trecho do texto "comum que esses silenciamentos façam com que os alunos não se sintam representados no museu, quebrando a expectativa de identificação do sujeito com a instituição que salvaguarda as histórias e memórias nacionais".
ResponderExcluirAo longo dos estudos na Disciplina de Educação Patrimônial na faculdade, tivemos grandes discussões sobre a questão dos museus e infelizmente os principais museus do Brasil possui silenciamentos ou exclusão de grupos sociais, podemos afirmar que é a demanda do Estado para o Favorecimento das Elites ou grupos sociais e fortalecimento da "História Oficial" (narrativa do Estado) para a promover a narrativa que convém, consequentemente, o aluno não se reconhece como um agente da história.
Ass. Elber Soares
Obrigada pela mensagem! Elber, que bom que vocês tiveram acesso na graduação à educação patrimonial, aconselho que você procure referências sobre educação museal, como a Política Nacional de Educação Museal (PNEM). Concordo que a narrativa hegemônica é uma demanda institucional guiada pela ação estatal, destacando o que convém sobre nossas memórias, e construindo novas memórias através das exposições. O aluno não se sente um agente histórico porque os museus tendem a glorificar figuras heroicas ou emblemáticas, silenciando a memória e vivência coletiva. O professor pode utilizar esses silenciamentos para produzir suas atividades pedagógicas, auxiliando para que os alunos formulem metanarrativas que privilegiem o pensamento histórico.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Baseado na reflexão mencionada. Como o educador-professor de história poderia desenvolver uma aula no Museu e organizar os conhecimentos adiquiridos na academia e cotidiano para instigar o aluno a se identificar como um agente da história (sujeito), diante de um museu que favorece a "História oficial"?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirO ideal é que o professor faça atividades de sensibilização prévia, introduzindo aos alunos a narrativa e linguagem do museu. O hábito de interrogar os objetos não faz parte do nosso cotidiano, logo os alunos devem ser preparados para esse exercício no museu. A visita pedagógica deve ter objetivos de aprendizagem claros para o professor, isso facilitará o trabalho de campo. Durante a visita ou posteriormente, na sala de aula, o professor deve ajudar os alunos a questionarem o porquê de certas personas históricas terem tanto destaque e outras não, esclarecendo que a narrativa do museu é fruto de uma seleção intencional. Em experiências de campo, vi bons resultados com alunos que compreenderam que eles fazem parte da História e as razões que levam o Estado a tentar silenciar suas existências. Creio que ao não pacificarmos o passado (e o presente), ajudamos os alunos a se perceberem como agentes históricos.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Bom dia
ResponderExcluirPriscila Lopes D’Ávila Borges
Tudo bem?
Primeiramente eu agradeço por esse artigo, pois é de suma importância para o processo de ensino e aprendizagem, envolvendo muito bem os assuntos correlatos ao museal com o processo de aula campo em museus pelos professores e alunos. Precisamos de mais artigos pertinentes iguais ao seu, para contribuir para os professores, pois muitos carecem de metodologias adequadas para visitas in loco, nota-se que muitas aulas campo se tornam mais um passeio, um local para tirar foto do que um local de aprendizagem tanto dos alunos quanto dos professores.
Gostei muito da sua fala em relação ao professor elaborar material prévio para os alunos e principalmente na parte em que fala da importância de provocar o aluno a pensar e não apenas o professor narrar as coisas sobre o museu.
Você citou Ortiz “O segundo apontamento, que surge como resultado das premissas normalmente utilizadas quando se fala sobre museus, corresponde à impressão de não haver um ponto de intersecção entre os interesses do visitante e os objetos/memórias preservadas no museu. Entretanto, o consumo desse tipo de aparelho cultural não é uma simples questão de predileção. Não podemos caracterizar essa postura como algo restrito a subjetividade, “mas sim como objetividade interiorizada, (...) que pressupõe certos esquemas generativos, que orientam e determinam a escolha estética” (ORTIZ, 1983, p.17).”. A partir dessa citação, em destaque sobre a falta de intersecção dos visitantes aos museus, eu lhe trago um questionamento. Você considera que o debate acerca da História Publica aproximaria a sociedade para dentro dos espaços museológicos brasileiros? Você considera que uma maior divulgação dos conhecimentos acadêmicos e dos museológicos ajudaria na aproximação dos alunos e da sociedade envolvente com os museus? Temos, por exemplo, o museu da Maré no Rio de Janeiro que conta a História daquela comunidade e faz a aproximação do objeto (museu) com o espectador (visitante), o mesmo ocorre no museu DDR Museum localizado em Berlim, museu este voltado à antiga República Democrática Alemã e nesse museu o visitante pode tocar o piano, sentar na poltrona, sentar no carro aproximando o ao objeto do ambiente.
Gostei muito do artigo e lhe parabenizo novamente e nesse mesmo evento que estamos participando eu estou com um artigo também e o mesmo é voltado para o ensino de História. Se for possível o compartilhamento de material que você tenha sobre o assunto me envie por gentileza no meu e-mail cristiano_m_e@hotmail.com.
Att,
Cristiano Rocha Soares
Obrigada pela mensagem! Cristiano, acredito que o debate da História Pública proporciona bons pontos de intersecção com as propostas referentes a democratização dos saberes museais, especialmente, pela forma como se dá o desenvolvimento do pensamento histórico em ambos os casos, contribuindo para orientação na vida. Todavia, tanto a História Pública quanto as práticas de educação museal e patrimonial carecem de preparação dos professores graduados e graduandos. Se nós não temos acesso a qualificação profissional nas licenciaturas, todo nosso trabalho em sala de aula torna-se mais desafiador. Vejo bons avanços com projetos como o PIBID e o PROFHISTÓRIA.
ResponderExcluirA divulgação de saberes de todos os campos (acadêmico, escolar, museológico e social) contribui na nossa formação enquanto sujeitos. Nesse ponto, creio que mais do que a veiculação devemos buscar a elaboração de materiais cognoscíveis, porque grande parte do público não compreende os debates travados para além do seu espaço de experiência pessoal. Os museus que você citou são fantásticos, o diálogo permanente com a comunidade faz do público autor, diferentemente do que ocorre em museus tradicionais, nos quais somos tratados como espectadores.
Atenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Obrigado pela resposta.
ExcluirEu faço o PROFHISTÓRIA em Cuiabá/MT, inclusive tenho uma disciplina de "História e História Pública" e realmente precisamos divulgar os saberes e estar em constante relação com a comunidade. Os produtos gerados tanto pelo mestrado profissional e quanto pelo PIBID são de suma importância.
Att,
Cristiano Rocha Soares
Nos museus do Brasil, muitas vezes, apresenta-se uma narrativa histórica e uma organização espacial que contempla a "História Oficial" sob a perspectiva de um grupo hegemônico, assim como os livros didáticos, de acordo com o discurso do Estado, o que contribuiu para a marginalização de sujeitos históricos como africanos, indígenas, mulheres, etc. Diante disso, de que maneira a arqueologia, a partir da cultural material, contribui para valorização de sujeitos marginalizados no espaço museal no ensino de História?
ResponderExcluirMaurício José Quaresma Silva
Obrigada pela mensagem! Os museus tradicionais tendem a legitimação e reprodução de discursos produzidos pela História e para memória oficial. A compreensão do universo cultural e material, próprio das discussões da arqueologia, contribui para a aprendizagem histórica, podendo ser a entrada para discussões sobre os silenciamentos e pacificações de memórias estabelecidas por museus. É importante que o professor instrumentalize a leitura de objetos, uma vez que nossa educação é logocêntrica. Essa habilidade facilita os questionamentos que podem suscitar a identificação de pertencimentos na História.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Entendi, obrigado! Parabéns Priscila pela pesquisa.
ExcluirOlá Priscila, parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirSeu texto busca apresentar a importância dos museus e do debate sobre museus na sala, entre os motivos está uma educação patrimonial. Muitas cidades ainda não possuem museus, entre os motivos está na idealização de que eles devem ser "grandes templos" idealizados a construções de séculos passado. Isso não é verdade, mas, diante de suas leituras, você identificou algo sobre museus comunitários? Você acha possível construir um a partir dos debates em sala? obrigado
att
Jorge Luiz Zaluski
Obrigada pela mensagem! Museus comunitários ou ecomuseus podem surgir a partir de discussões em sala de aula e na sociedade. Inclusive, é crescente a criação de museus escolares, feitos por alunos e professores, com boas problematizações a respeito do bairro e/ou cidade onde se inserem. Como professora de História, acredito que os museus comunitários oferecem subsídios elementares para o trabalho em sala de aula, proporcionando de forma mais objetiva o reconhecimento dos sujeitos diante da materialidade.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Priscila, muito bom seu texto e sua sensibilidade para o universo dos museus. Eles têm muita riqueza de detalhes que devem ser valorizados. Na cidade que moro, não temos um espaço desses, infelizmente, mas temos os museus virtuais para permitir uma aproximação com esse mundo tão rico.
ResponderExcluirat.te
Prof. Mayara Leal
Obrigada pela mensagem! Em cidades que não possuem museus, a consulta as plataformas virtuais são uma opção para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e formação de professores. Mesmo através de imagens, não devemos naturalizar as exposições, por isso, indico a realização de exercícios de sensibilização e estímulo a interrogação de objetos conjugados à visita virtual.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Priscila,
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho. São considerações pertinentes ao tema e a formação de professores/as e estudantes.
Em relação aos museus, como você identifica a relação entre passado, presente e futuro? Como os museus podem auxiliar no direcionamento para "os rumos da história"?
obrigado
Elenice de Paula
Obrigada pela mensagem! Como minha abordagem analítica sobre museus está no campo da aprendizagem histórica, identifico a relação com o tempo segundo os estudos de Jörn Rüsen, compreendendo o museu como um espaço educativo que contribui para orientação para vida e interpretação. A relação entre passado, presente e futuro se dá por meio da consulta ao passado, para orientar questões do presente elaborando o desenvolvimento do pensamento histórico no futuro. O encontro do público com as exposições, e consequente criação de metanarrativas relaciona passado, presente e futuro, além de permitir elementos de emancipação, se a visita incluir problematizações sobre os silenciamentos da História oficial.
ExcluirAtenciosamente,
Priscila Lopes d'Avila Borges
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